LUDUTOPIA

terça-feira, 7 de abril de 2015

"1984", de George Orwell


Sinopse:
1984 oferece hoje uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas. A eletrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. O Big Brother já não é uma figura de estilo - converteu-se numa vulgaridade quotidiana.


Opinião:
"Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força". Imaginam-se a viver num país com este lema? Pois bem, George Orwell criou uma Oceânia com base neste slogan e fê-lo com mestria. O mundo concebido por ele apresenta-se como uma distopia, com três super potências numa guerra constante: a Oceânia, a Eurásia e a Lestásia. A primeira é governada pelo Partido, ou Grande Irmão, que controla a sociedade, desde o que come ao que pensa. A força do Partido é representada através dos vários Ministérios: Ministério da Verdade, responsável pela "atualização" de documentos, literatura e outros tipos de cultura; Ministério da Paz, que mantém a guerra ativa contra os inimigos da Oceânia; Ministério da Riqueza, responsável pela economia do país; Ministério do Amor, que controla a população, nomeadamente aqueles que se viram contra os ideais do Partido. Estes Ministérios foram criados para mostrar a toda a população que o país está bem e, como tal, os factos são constantemente alterados, para o povo achar que de facto são um país evoluído a cada dia que passa. Porém, essa suposta evolução e bom ambiente que se vive, é apenas uma ilusão, porque a Oceânia não evolui, pelo menos da forma que é apresentada. O principal objetivo dessa lavagem cerebral é controlar os pensamentos da população. Aliás, essa intenção é tão primordial que até o Partido criou uma nova língua, novilíngua, para reduzir o vocabulário das pessoas e, consequentemente, a sua forma de pensar.
― Não vês que a finalidade da novilíngua é precisamente restringir o campo do pensamento? Acabaremos por conseguir que o crimepensar seja literalmente impossível, pois não haverá palavras para o exprimir. Todos os conceitos de que possamos ter necessidade serão expressos, cada um deles, exclusivamente por uma palavra, de significação rigorosamente definida, sendo eliminados e votados ao esquecimento todos os seus sentidos subsidiários.
Com um número reduzido de palavras as pessoas terão um pensamento limitado e dificilmente se expressarão de forma pejorativa em relação ao regime, criando assim uma uniformização do pensamento.


O livro está dividido em três partes. A primeira introduz-nos Winston Smith, um simples funcionário do Ministério da Verdade, e todo o seu quotidiano, desde as suas funções no trabalho aos medos que percorrem o seu corpo. É nesta parte que ficamos a saber o ambiente que se vive na Oceânia e apercebemo-nos que Winston é o único ser humano com um pensamento contrário ao Grande Irmão. É o único que se interroga constantemente acerca do passado, se certos factos aconteceram na sua cabeça ou não. Incomodou-me como é que outras personagens, que inclusive trabalhavam para o Partido e, de certa forma, sabiam do abuso de poder, simplesmente aceitavam a sua ideologia totalitarista.
Na segunda parte, a mais aborrecida, no meu ponto de vista, vemos o romance entre o protagonista e uma trabalhadora do Ministério do Amor, Júlia, florescer. Aqui temos conhecimento da forma opressora que o regime incute nas ligações afetuosas. Essa medida é tão grave que as pessoas sentem nojo ao terem prazer numa relação sexual e os filhos têm necessidade de denunciar os próprios pais ao Grande Irmão. É assustador! Para além do romance, Winston tenta integrar-se num grupo rebelde para combater o regime em que vive e é aí que Orwell nos descortina toda a estrutura e intenções do regime, através de um livro que o protagonista possui.
A última parte de "1984" é perturbadora, pois Smith é apanhado e torturado pelo Partido. Essa tortura não serve apenas para o fazer sofrer física e psicologicamente, mas converte-lo ao ponto de aceitar que 2+2=5. É fantástico e ao mesmo tempo aterrorizador notar a mudança de pensamento do personagem e é impossível não ficar afetado com a última conversa entre Winston e Júlia. Ambos traíram o seu amor, preferindo que o outro sofresse no seu lugar. Partiu-me o coração.
Este é, sem dúvida, um livro que espero reler em breve. O final é estrondosamente metafórico e a última frase arrebatadora!

Classificação:

4 comentários:

  1. Olá,
    Não li a tua opinião por razões óbvias, mas via que atribuis-te 5 "estrelas", tenho muita vontade de ler este livro, mas sempre que leio a sinopse fico com a sensação que é um livro sobre política.
    Boas leituras.

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    1. Olá Carla :) Não considero "1984" um livro político. O autor centrou-se bastante no mundo criado por ele e na visão da personagem principal face aos acontecimentos. É uma distopia TOTALMENTE diferente de THG ou Divergente. É mais adulta, mas de fácil entendimento :P

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