LUDUTOPIA

domingo, 5 de abril de 2015

"A Vida Inteira", de Miguel Esteves Cardoso


Sinopse:
“É preciso ver que eles vivem num mundo adormecido. Há muito que desapareceram os sinais de vida. As pessoas habituaram-se de tal maneira aos hábitos que se esqueceram que havia outras maneiras de fazer as coisas. Ninguém desobedece. Ninguém ousa. É o século XXI. É o Ocidente. Tudo está realmente resolvido. Mas não resta ninguém para se irritar com isso”.
“A Vida Inteira”, livro de Miguel Esteves Cardoso, fala-nos dos devaneios amorosos e questões existenciais do ser humano. Nesta obra, o narrador, personagem crucial no texto, é uma alma, já anciã, que vagueia por objetos e corpos humanos. Subitamente, a alma apaixona-se por Eva, rapariga com uma mente complicada e perseguida por um episódio do passado que não consegue de todo esquecer.
No fundo, o livro, através das almas do narrador e de Eva, trata do mais forte desejo carnal sob ambas as perspectivas, perversa e inocente. Pela mão dos versos de Camões, lidos por Eva, apercebemo-nos da dimensão da vida e do ser humano, como ser profundo e libidinoso.



Opinião:
"Não é fácil ser alma. Tem vantagens. Posso entrar na pessoa que quiser e fazê-la falar e mover-se como se fosse uma marioneta." É desta forma que Miguel Esteves Cardoso nos introduz a história da alma de um rapaz, em coma, que pretende conquistar uma rapariga: Eva. As duas personagens são estranhas. A primeira, a alma que entra em qualquer corpo e objeto, confunde-se a si própria quando pensa sobre algo. É capaz de falar de alhos e de seguida em bugalhos. A rapariga é uma sem vontade de viver, de amar. Apenas existe.
Ao longo da narrativa vemos bastante críticas à forma como a sociedade interage entre si e isso acaba por ser engraçado, porque de facto há certas maneiras de falar que nos são tão naturais que nem nos questionamos porque dizemos isto e aquilo. Como por exemplo, quando o Carlos diz a Eva que só quer falar com ela, como se isso fosse insignificante, igual a pedir um copo de água que não se nega a ninguém, ou quando ele diz a Eva que a ama e a alma reflete que "«Amo-te» não é como «Bom dia». Não se pode responder com as mesmas palavras".
O ponto forte do autor são mesmo as reflexões que a alma faz acerca do ser humano, sejam de caráter linguístico ou amoroso, porque a história em si é pobre. Nada de relevante acontece, ficamos apenas a saber um pouco sobre Eva e, juntamente com a alma, apercebemo-nos que ela é incapaz de amar alguém, porque ela nem amor próprio tem, quanto mais amor para dar.
A edição do livro até poderia ser considerada razoável, se todos os livros do autor, editados pela Assírio & Alvim, não tivessem a lombada e o título da mesma cor. O laranja é uma cor fulcral na história e perdeu o efeito sendo este livro editado como todos os outros.

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