LUDUTOPIA

quarta-feira, 8 de abril de 2015

"Sonho Febril", de George R. R. Martin

(livro com jacket)

Título original: Fevre Dream
Autor: George R. R. Martin
Tradutora: Ana Mendes Lopes
Editora: Saída de Emergência
Nº de Páginas: 400

Sinopse:
Rio Mississípi, 1857. Abner Marsh, respeitável mas falido capitão de barcos a vapor, é abordado por um misterioso aristocrata de nome Joshua York que lhe oferece a oportunidade única de construir o barco dos seus sonhos. York tem os seus próprios motivos para navegar o rio Mississípi, e Marsh é forçado a aceitar o secretismo do seu patrono, não importando o quão bizarros ou caprichosos pareçam os seus actos. Mas à medida que navegam o rio, rumores circulam sobre o enigmático York: toma refeições apenas de madrugada, e na companhia de amigos raramente vistos à luz do dia. E na esteira do magnífico barco a vapor Fevre Dream é deixado um rasto de corpos… Ao aperceber-se de que embarcou numa missão cheia de perigos e trevas, Marsh é forçado a confrontar o homem que tornou o seu sonho realidade.


(capa do livro)

E não mais seremos nómadas pela noite tardia.

Opinião:
"Sonho Febril" foi o primeiro livro que li de George R. R. Martin, depois de ter entrado no mundo de "As Crónicas de Gelo e Fogo". As expectativas estavam altas, mas Martin cumpriu. Apaixonei-me rapidamente pelo mundo fervoroso de "Sonho Febril", principalmente pelas personagens que são ricas e profundas.
Este texto de opinião vai focar-se essencialmente nas personagens e não tanto na história. Pela sinopse podemos perceber que o desenrolar da ação se vai passar entre barcos a vapor, com vampiros a tramar alguma. Não há motivos para ficarem reticentes em relação ao género terror com estas criaturas, porque George R. R. faz-nos apaixonar por eles, de tão complexos que são. Longe das típicas descrições, esses vampiros são denominados como criaturas da noite, com sede vermelha (leia-se vontade de beber sangue).
A relação que os dois vampiros protagonistas, Joshua York e Damon Julian, criaram com os seus companheiros humanos são distintas. Isto deve-se ao facto do Capitão Abner Marsh e de Sour Billy Tipton serem totalmente diferentes entre si e entre os vampiros. Marsh é um homem sem papas na língua e, por isso, sabe impôr-se, daí a relação criada com York seja uma relação de negócios que aos poucos evoluí para uma amizade verdadeira, ao contrário de Billy e Julian. O primeiro é um homem reles que menospreza os negros e acha-se superior. Para evidenciar essa supremacia ele sente necessidade de se tornar um vampiro como o seu patrão. Esse desejo é tão forte que ele faz de tudo para o conseguir, obedecendo cegamente a Julian, inclusive beber sangue durante anos e posteriormente comer carne humana. Com estas relações podemos perceber que York é uma pessoa pacífica e mais humana que Julian, que só quer saber do poder. Este último, já não sente a famosa sede vermelha e só se sacia por puro prazer, para sentir a vida dos humanos a desvanecer nas suas mãos, porque, segundo ele, faz parte da sua natureza aproveitar-se do gado.
Martin toca em vários assuntos nesta obra, desde o racismo, à vontade de perseguir um sonho. São esses tópicos que fazem com que as personagens sejam diversificadas e lutem por objetivos distintos. York quer salvar a sua raça, Marsh quer que o seu barco a vapor, Fevre Dream, seja conhecido por ser o mais rápido do rio Mississípi, Billy quer ser um vampiro, Julian quer continuar a ter a vida que tem, alimentando uma coisa que não sente.
As corridas de barco a vapor são tão bem escritas, que o autor nos transporta para elas. Atrevo-me a dizer que sentimos o nervoso miudinho quando um barco ultrapassa outro. A escrita de Martin é realmente fascinante! Apesar do final ser previsível, o epílogo é bastante bonito. O cenário é descrito de forma sensível e gloriosa para o Capitão Abner Marsh que, para mim, é o verdadeiro protagonista nesta corrida louca de barcos a vapor.

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