LUDUTOPIA

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"Todos os Nomes", de José Saramago



Autor: José Saramago
Editora: Caminho
Nº de páginas: 335

Sinopse:
O protagonista é um homem de meia idade, funcionário inferior do Arquivo do Registo Civil. Este funcionário cultiva a pequena mania de coleccionar notícias de jornais e revistas sobre gente célebre. Um dia reconhece a falta, nas suas colecções, de informações exactas sobre o nascimento (data, naturalidade, nome dos pais, etc.) dessas pessoas. Dedica-se portanto a copiar os respectivos dados das fichas que se encontram no arquivo. Casualmente, a ficha de uma pessoa comum (uma mulher) mistura-se com outras que estás copiando. O súbito contraste entre o que é conhecido e o que é desconhecido faz surgir nele a necessidade de conhecer a vida dessa mulher. Começa assim uma busca, a procura do outro.

Opinião (sem spoilers):
Em 24 anos de existência, nunca tinha lido realmente José Saramago. É uma vergonha, eu sei, mas em minha defesa, culpo a escola, que sempre nos assombrou a todos, enquanto estudantes do ensino secundário, com "O Memorial do Convento". Se já ler por obrigação é horrível, imaginem ler uma obra com uma escrita peculiar como a do Saramago. Pois bem, este ano decidi que seria a altura ideal para me aventurar nos livros do único Nobel português da literatura.

Recomendado por uma professora, optei por "Todos os Nomes", que foi publicado pela primeira vez em 1997, e não podia ter começado melhor. Neste livro acompanhamos a vida de José (o mesmo nome do autor), um funcionário do Arquivo do Registo Civil. Este senhor tem uma mania muito específica: colectar informações pessoais de gente famosa. Um certo dia, no meio dos arquivos que roubou para o seu hobbie, encontra uma ficha de uma mulher comum. Com isso, surge o súbito interesse em saber mais sobre ela.


Quem é a mulher? Onde vive? Quem são os seus pais? Onde estudou? É casada? Tem filhos? O que fez durante a sua vida? Foram estas as questões que pairaram na cabeça de José ao longo das 335 páginas que compõem o livro. Sabemos as respostas a todas estas inquietações? Talvez sim, talvez não. Desafio-vos a ler o livro para descobrirem! O que posso revelar é que, à semelhança dos famosos, qualquer pessoa comum também pode ter uma vida interessante e marcante o suficiente, se bem que a aventura de José foi mais intrigante do que a história de vida da mulher misteriosa. Talvez por ela ser apenas uma figura representativa e não algo concreto e vivo como ele.

O senhor José é uma figura bastante peculiar. Mete-se em cada uma que não lembra a ninguém. Cheguei a cogitar que o homem sofria de síndrome de Borderline, por se aventurar como um louco. Ele sabe que se for apanhado vai ficar em maus lençóis, mas ainda assim insiste em aventura-se para saber um pouco mais sobre a mulher, cujo nome nunca o vimos pronunciar. Por falar nisso, é irónico como num livro chamado "Todos os Nomes" apenas conhecemos o do protagonista. Todas as outras pessoas são chamadas consoante a sua profissão ou uma característica sua. Saber os nomes não tem muita importância, porque, na verdade, não só os personagens como nós, acabamos por ser as memórias que os outros guardam da nossa vida. Memórias essas que vão ajudar José na sua busca pelo outro.

A certa altura aparece uma frase que define o livro por completo: "o que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca e (...) é preciso andar muito para alcançar o que está perto". Foi exatamente o que aconteceu com o senhor José e acontece diariamente connosco, se pensarmos um pouco. Claro que a diferença é que o protagonista andava à procura de informações da mulher, enquanto nós, seres humanos, andamos à procura do sentido da nossa vida. Não terá sido a mulher uma metáfora usada pelo autor? E só de pensar que tudo isto começou por causa de um documento perdido!

O enredo foi bom de se acompanhar, mas quando terminei a leitura, uma dúvida assombrou-me. Fiquei com a sensação que a mulher estava bem mais próxima de José do que aparentava, por causa do perfume composto de metade rosa e metade crisântemo, cheiro característico do local de trabalho dele e dos vestidos dela. Se isto for verdade, a frase que citei acima faz ainda mais sentido!

A escrita de Saramago é soberba. Todos os preconceitos e receios que tinha, desvaneceram-se por completo. Amo Saramago e quero ler mais dele e sobre ele! O homem conquistou-me com uma estória tão simples e tão bem escrita. Mesmo sem vírgulas ou pontos finais, consegui distinguir  na perfeição os diálogos e a ação. Futuramente, pretendo fazer uma releitura, pois sinto que me escaparam alguns pormenores.

Já leram "Todos os Nomes"? Que mais obras do autor recomendam?

Classificação:

11 comentários:

  1. Olá
    Eu só li na escola O Memorial do Convento e até gostei mas se não tivesse sido uma leitura obrigatória acho que iria aproveitar mais.
    Mas nunca mais li nada dele. Quero mudar isso brevemente, este livro pareceu-me bastante interessante.

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  2. Oi, Lud!
    Li muito pouco de Saramago mas gostei do que li. Este, por acaso, não tive o prazer de ler, mas está nos objetivos.
    Permite-me fazer-te uma pergunta: porque é que tens os livros do Acácia tão longe um do outro na prateleira? :P
    Abraço

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    Respostas
    1. Eu organizo a minha estante da seguinte maneira:
      - Livros lidos por ordem alfabética do apelido do autor;
      - Livros não lidos por ordem de preferência.

      A saga Acácia está separada para não enjoar :P Entretanto, um deles já foi lido e em breve sairá opinião :D

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    2. Já percebi. :P Eu agora estou em obras e tenho os meus livros todos guardados no sótão para não apanharem pó, mas quando voltar a organizar os livros nas estantes em princípio vou ter um sítio só para as fantasias da Saída de Emergência, uma prateleira para os "Espada que Sangra" que ainda tenho em casa, outra para fantasias de outras editoras, outro espaço para livros sobre História, sejam romances históricos ou género Código DaVinci, e os livros por ler na mesa de cabeceira. Vamos ver como é que vai correr :P

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  3. Agora fiquei com vontade de ler Saramago, mais um livro para a lista.

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  4. O único livro que li do Saramago foi o Memorial do Convento e gostei bastante, o fim é que pronto ... Comprei há algum tempo o Ensaio Sobre a Cegueira porque gostei bastante da sinopse mas não sei bem porquê, ainda não o li.

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  5. Olá Ludgero,
    Estou muito curiosa por ler este livro, quero muito ler Saramago;)
    Gostei muito da tua opinião.
    Beijinhos e boas leituras.

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  6. Tens uma nova tag para ti.
    Beijocas e boas leituras.

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  7. Olá Ludgero,
    Tenho quase mais 10 anos do que tu e nunca li Saramago. Pronto, mentira, há uns 10 anos (talvez) tentei ler O Evangelho Segundo Jesus Cristo e só li uma página e voltou para a estante eheheheh
    Na escola dei A Aparição de Vergílio Ferreira, que odiei. Quanto a Saramago, talvez um dia mas sinceramente não sei quando =P
    Bjs

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  8. Olá,
    Eu também fui obrigada a ler o memorial do convento e detestei. Nunca mais li nada de Saramago.
    Beijinhos

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  9. Comprei esse livro na Feira do Livro em Lisboa e estou super ansiosa para lê-lo. Não será a primeira obra que lerei de Saramago, pois felizmente até que gostei do Memorial e logo a seguir li "As intermitências da morte", um livro que aconselho, se ainda não leste!

    A Vida de Lyne

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